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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

17ª Caminhada Pela Paisagem Sócio Espacial de Curitiba

(Curitiba 22 de setembro de 2012)



Professor Zeno Soares Crocetti



Ementa:
O objetivo dessa aula de campo intitulada “Caminhada Pela Paisagem Sócio Espacial de Curitiba” é possibilitar aos participantes uma visão do processo da evolução histórica de Curitiba interpretando sua formação socioespacial que vá além daquela frequentemente veiculada pela mídia. A visão de cidade oficial de cartão postal e modelo urbanístico - vamos ressaltar pontos que permitam uma maior compreensão do real.
Desse modo, além da discussão das sínteses estabelecidas para Curitiba, tais como “cidade modelo”, “metrópole de primeiro mundo”, “capital ecológica” e, mais recentemente, “capital social”, pretendemos evidenciar as contradições existentes em Curitiba, com ênfase no aglomerado urbano, discutir a produção do espaço urbano e as contradições de sua formação Social.





Roteiro

1.             Batel (pracinha) concentração
2.             Comendador Araújo
3.             Praça Osório
4.             XV (Boca)
5.             XV até Museu Banestado
6.             Generoso Marques
7.             Setor Histórico, Claudino dos Santos
8.             Praça Garibaldi
9.             São Francisco
10.          Kellers
11.          Ébano Pereira
- Organizações/Ordenamentos Antigos.

Palavras-chave: Curitiba, transformações socioespaciais, dinâmica arquitetônica e evolução histórica.

Introdução
Interpretar criticamente a cidade é diagnosticar uma complexa organização do espaço, que se configura como possibilidade da realização da vida humana. A estrutura do modo de produção, da organização espacial são reflexos das concepções de mundo em movimento que se transformam constantemente, permeados pelos fatores políticos, sociais, culturais e econômicos, que, sob a égide do capitalismo, subordinam e restringem a esfera da vida social ao mercado de trabalho e do consumo.

A Concentração dos Investimentos na RMC.
Análise Conjuntural do IPARDES mostrou dados reais e críticos que apontam que nos últimos 20 anos 70% dos investimentos ficaram na Grande Curitiba.
Dos investimentos listados pelo IPARDES, o maior é da área metalmecânica com R$ 2, 649 bi, e o de material de transportes, com R$ 2, 029 bi. O material de transportes é 100% da RMC, conforme o estudo, e o metalmecânico concentram mais de 90% na RMC. Já o investimento agroindustrial, de quase R$ 1 bi (para ser exato R$ 987,3 milhões), tem a drenagem de 80,48% para o interior.  Nesse caso, é necessário não esquecer que no eixo Curitiba/Ponta Grossa está o maior parque de oleaginosas da América Latina. Há um adicional nesse trabalho, que alcança R$ 4, 753 bi, que trata de inversões privadas diretamente ligadas à produção. Esses totais excluem programações de investimentos em infraestrutura de energia elétrica, telecomunicações, transportes e distribuição de petróleo que no conjunto superam R$ 4 bilhões. Ficaram de fora também algumas intenções de investimento de longo prazo manifestadas pela Renault, Klabin e Electrolux, totalizando quase R$ 1 bilhão. Somando tudo, dão os R$ 9 bilhões que, segundo Lerner, iria gerar 480 mil empregos.  O quadro a que nos referimos é do setor industrial porque a expressão da agricultura e do extrativismo (setor primário) é de pouco significado no conjunto metropolitano e zerada em Curitiba. Junte-se a isso o potencial do setor terciário (comércio, transportes, serviços), mais agregador ainda, de capital e trabalho e teremos idéia ainda mais forte do desequilíbrio.
O Paraná só será uma unidade integrada e forte se houver não apenas distribuição mais equilibrada desses investimentos como uma ação mais coordenada pela difusão do bem-estar.
Reproduzir o modelo paulista não provará racionalidade e inteligência de nossa parte e muito menos confirmará a expectativa de todo o país na proclamada criatividade do nosso governador. Ganhamos, no entanto, num aspecto: tiramos de nossa economia a condição de complementaridade da paulista. O que é uma revolução, queima de etapas.
Recentemente saiu uma publicação sobre o PIB (Produto Interno Bruto) estadual e que reafirma a concentração da economia na Grande Curitiba: 22% do total estão justamente ali. Antes houve aquela outra revelação, num estudo sobre potencial de consumo: a capital paranaense detinha 24% de tudo, o que mostrava no sul do país a situação mais perversa, já que em Santa Catarina, Joinville saia à frente com 9% seguido de Florianópolis com 8%, o que indica uma irradiação mais distributiva. Também a distância entre Curitiba e Londrina era maior do que a estabelecida entre Porto Alegre e Caxias do Sul: a ex-capital do café aparecia com 5%.
A partilha do ICMS, em que a Grande Curitiba aparece com quase dois terços. Não é para espantar, já que os fatores locacionais, que pesaram na escolha das montadoras, são visíveis no agregado da Cidade Industrial acoplada ao distrito fabril de Araucária, onde opera ainda o polo petroquímico. Araucária e São José dos Pinhais ficam com uma parte ponderável das rendas públicas.
Vamos, novamente, ao estudo do IPARDES sobre o ‘‘Perfil dos Investimentos Industriais no Paraná’’. Há três gêneros em que o interior sobrepuja a Região Metropolitana: a agroindústria (80,48% contra 19,52%), madeira mobiliário (90,48%) e bebidas (75,68%). Há um equilibrado, levemente beneficiando o interior: produtos de matérias plásticas (51,72% dos investimentos). Há os de 100% na RMC como minerais não metálicos, material de transportes, perfumaria e gráfica. Vejamos os demais: material elétrico e de comunicações (96,75% na RMC), mecânica (95,38%), metalurgia (88,89%), química (86,25%).

Cidade de Curitiba: Indicadores Básicos


PIB per capita US$:                                                                                    5.149
Índice de Gini - concentração de renda:                                                    0,567
População Ocupada com rendimento superior a 2 salários mínimos:          58,4%
Empregados com Carteira de Trabalho assinada:                                        82,0%
Empregados com contribuição previdenciária oficial:                                 62,2%
Domicílios próprios:                                                                                   64,3%
Domicílios com geladeira:                                                                          75,9%
Domicílios com rádio:                                                                                94,4%
Domicílios com televisão:                                                                            81,3%
Mortalidade infantil (por 1.000 nascidos vivos):                                         20,3
Taxa de alfabetização funcional:                                                                72,8%
Taxa de escolaridade - primeiro grau:                                                         76,7%
Bibliotecas públicas:                                                                                      55
Espaços culturais e museus:                                                                           73
Fonte: IBGE, Banco Mundial, SICT, IPPUC, SMC. 2008.


Referências


CROCETTI, Z. S. Evolução Sócio-Espacial do Paraná. Florianópolis: Dissertação, Mestrado em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.
CROCETTI, Z. S. Formação Sócio Espacial do Paraná. Florianópolis: Tese, Doutorado em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, 2011.
FIRKOWSKI, O. L. C. F. Conflitos de gestão: dos problemas metropolitanos às soluções municipais. A nova Lei de Zoneamento e Uso do Solo de Curitiba. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 9, 2001. Anais... Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2001, p. 234-240.
GARCIA, F. E. S. Cidade espetáculo. Política, planejamento e city marketing. Curitiba: Ed. Palavra, 1997.
LIMA, C. de A. A ocupação de área de mananciais e os limites dos recursos hídricos na RMC: do planejamento à gestão ambiental urbano-metropolitana. Curitiba; Tese, Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Universidade Federal do Paraná. , 2000, 389 f.
MOURA, R. e KLEINKE, M. L. U. Espacialidades de concentração na rede urbana da região sul. Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba: IPARDES, n. 95, p. 3-25, 1999.
MOURA, R. e FIRKOWSKI, O. L. C. F. Metrópoles e regiões metropolitanas. O que isso tem em comum? In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 9, 2001. Anais... Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2001, p. 105-114.
OLIVEIRA, D. Curitiba e o mito da cidade modelo. Curitiba: Ed. Da UFPR, 2000.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Massacre na Síria foi cometido por rebeldes e não pelo governo

      

Massacre na Síria foi cometido por rebeldes e não pelo governo

 


Do Jornal Alemão
18/06/2012
Frankfurter Allgemeine Zeitung Confirms:
Houla Massacre Committed By Syrian “Rebels”
Clara Weiss 16/06/ 2012




Rede britânica BBC publicou foto da Guerra do Iraque em 2003 como se fosse do massacre de maio na Síria

No dia 25 de maio deste ano, a imprensa internacional noticiou um violento massacre ocorrido na cidade de Houla, no oeste da Síria. No total, 108 pessoas teriam sido mortas, boa parte delas executadas, sendo 34 mulheres e 49 crianças. Foi a senha para que a ONU e as potências ocidentais aumentassem a pressão sobre o governo de Bashar Al Assad, rapidamente responsabilizado pela matança. Dezenas de países expulsaram diplomatas sírios em protesto e, pela primeira vez, líderes como o presidente francês François Hollande falaram abertamente em uma intervenção estrangeira na Síria.

Um mês depois, no entanto, um dos maiores jornais da Alemanha revela que a história pode não ter sido bem assim. Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, o massacre não teria sido obra de forças leais a Assad, como amplamente divulgado, mas por membros do ELS (Exército Livre da Síria), um dos grupos de rebeldes armados que há quase um ano e meio enfrentam o governo, com o apoio explícito de países como Estados Unidos e Reino Unido.

Em duas reportagens publicadas nos dias 7 e 13 de junho, o diário alemão relata que a maior parte das vítimas do massacre fazia parte de duas tradicionais famílias xiitas e alauítas de uma aldeia de Houla, vilarejo que fica próximo da cidade de Homs – principal enclave das forças oposicionistas. Eles teriam sido mortos por integrantes do ELS, militares de orientação sunita que desertaram do Exército sírio desde que o conflito começou.

Segundo relata o enviado do Frankfurter Allgemeine Zeitung à Síria, a região tem histórico de conflitos sectários e rivalidades familiares. “Dos nomes dos civis mortos, 84 são conhecidos. Estes são os pais, mães e 49 crianças da família Al Sayyid e dois ramos da família Abdarrazzaq”, diz a reportagem assinada por Rainer Hermann.

"Os membros da família foram alvejados e mortos com uma única exceção. Nenhum vizinho ficou ferido”, continua o correspondente, observando que foi uma execução bem planejada, que exigiria conhecimento do local.

O repórter ouviu o único sobrevivente da chacina, um menino de 11 anos chamado Ali, membro da família Al Sayyid, que descreveu os assassinos como “homens de cabeças raspadas e barbas longas". Segundo o jornalista, essas características apontam para "jihadistas fanáticos" e não para a "milícia Shabiha", que apoia Assad.

A versão hegemônica para o que ocorreu em Houla foi difundida especialmente pelo relato dos jornais The Observer (britânico) e pelo alemão Der Spiegel, que ouviram como principal fonte um integrante do grupo rebelde, que alegou ter deserdado após o massacre.

De acordo com o relato do Frankfurter Allgemeine Zeitung, o massacre em Houla representaria a divisão étnico-religiosa que marca o conflito sírio, já que o presidente Bashar Al Assad pertence à minoria alauíta, que vem dominando a política no país nas últimas décadas, enquanto os insurgentes são em sua maioria da corrente sunita, que por sua vez é rival do ramo xiita do islamismo.

Apesar de não ter repercutido internacionalmente, a reportagem do jornal alemão publicada em 7 de junho gerou a reação de um  grupo oposicionista baseado em Houla, que, falando em nome da comunidade, publicou uma carta aberta acusando o repórter Ranier Hermann de ter “inventado mentiras” sobre o crime. O comunicado diz que o jornalista não procurou o grupo opositor na cidade e que as famílias chacinadas eram da etnia sunita.

Essa não é a primeira vez que o massacre de Houla é alvo de polêmica na imprensa internacional. O jornal The Telegraph acusou a rede britânica BBC de publicar uma foto antiga da Guerra do Iraque para ilustrar o crime. A imagem, que mostra uma pilha de corpos cobertos por lençóis brancos, foi tirada pelo fotógrafo Mauro di Lauro, da agência Getty Images. Na legenda da foto publicada em seu site, a BBC diz que a imagem foi enviada por um “ativista” e não poderia ter sua autenticidade comprovada.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Morre Aziz Ab'Sáber, decano da geografia física no Brasil

Morre Aziz Ab'Sáber, decano da geografia física no Brasil

O pesquisador Aziz Nacib Ab'Saber, um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física e referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, morreu nesta sexta-feira, aos 87 anos, de enfarte.
Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), ele é autor de mais de 300 trabalhos acadêmicos e considerado referência da geografia em todo o mundo. É autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil. Era presidente de honra e ex-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Texto publicado no site da entidade conta que um dia antes de morrer, "o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas".
Folha_press 16/03/2012 DE SÃO PAULO
Aziz Nacib Ab'Sáber, um dos maiores especialistas em geografia física do país, bem como uma voz ativa nos debates sobre biodiversidade e preservação ambiental, morreu na manhã desta sexta-feira, às 10h20, em São Paulo. Ele tinha 87 anos.
A informação foi dada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), instituição que Ab'Sáber presidiu de 1993 a 1995 e da qual era presidente de honra e conselheiro.
Segundo informações do departamento de geografia da USP, Ab'Sáber morreu em casa e a causa da morte ainda não foi identificada. Não há, por enquanto, informações sobre o velório do geógrafo.
Ab'Sáber nasceu em São Luís do Paraitinga (SP) em 24 de outubro de 1924. Seu pai era libanês.

Silva Júnior/Folhapress

 
Foto de arquivo do geógrafo Aziz Ab'Saber, ao receber o troféu Juca Pato como intelectual do ano de 2011
Apesar da idade avançada, Ab'Saber continuava sendo um observador das controvérsias políticas envolvendo a questão ambiental.
Envolveu-se, por exemplo, com a discussão do novo Código Florestal, que pode alterar as áreas de preservação obrigatórias em propriedades particulares, nos últimos dois anos.
Segundo a SBPC, o geógrafo criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o país, levando em consideração a diversidade de paisagens naturais no Brasil.
O estudioso também chegou a sugerir a criação de um Código da Biodiversidade para implementar a proteção a espécies da flora e da fauna.