17ª Caminhada Pela Paisagem Sócio Espacial de Curitiba
(Curitiba
22 de setembro de 2012)
Professor
Zeno Soares Crocetti
Ementa:
O objetivo dessa aula de campo
intitulada “Caminhada Pela Paisagem Sócio Espacial de Curitiba” é possibilitar
aos participantes uma visão do processo da evolução histórica de Curitiba interpretando
sua formação socioespacial que vá além daquela frequentemente veiculada pela
mídia. A visão de cidade oficial de cartão postal e modelo urbanístico - vamos
ressaltar pontos que permitam uma maior compreensão do real.
Desse
modo, além da discussão das sínteses estabelecidas para Curitiba, tais como
“cidade modelo”, “metrópole de primeiro mundo”, “capital ecológica” e, mais
recentemente, “capital social”, pretendemos evidenciar as contradições
existentes em Curitiba, com ênfase no aglomerado urbano, discutir a produção do
espaço urbano e as contradições de sua formação Social.
Roteiro
1.
Batel
(pracinha) concentração
2.
Comendador Araújo
3.
Praça
Osório
4.
XV
(Boca)
5.
XV
até Museu Banestado
6.
Generoso
Marques
7.
Setor
Histórico, Claudino dos Santos
8.
Praça
Garibaldi
9.
São
Francisco
10.
Kellers
11.
Ébano
Pereira
- Organizações/Ordenamentos
Antigos.
Palavras-chave: Curitiba, transformações socioespaciais, dinâmica arquitetônica e evolução histórica.
Introdução
Interpretar criticamente
a cidade é diagnosticar uma complexa organização do espaço, que se configura
como possibilidade da realização da vida humana. A estrutura do modo de
produção, da organização espacial são reflexos das concepções de mundo em
movimento que se transformam constantemente, permeados pelos fatores políticos,
sociais, culturais e econômicos, que, sob a égide do capitalismo, subordinam e
restringem a esfera da vida social ao mercado de trabalho e do consumo.
A Concentração dos
Investimentos na RMC.
Análise
Conjuntural do IPARDES mostrou dados reais e críticos que apontam que nos
últimos 20 anos 70% dos investimentos ficaram na Grande Curitiba.
Dos investimentos
listados pelo IPARDES, o maior é da área metalmecânica com R$ 2, 649 bi, e o
de material de transportes, com R$ 2, 029 bi. O material de transportes é 100%
da RMC, conforme o estudo, e o metalmecânico concentram mais de 90% na RMC. Já
o investimento agroindustrial, de quase R$ 1 bi (para ser exato R$ 987,3
milhões), tem a drenagem de 80,48% para o interior. Nesse caso, é necessário não esquecer que no
eixo Curitiba/Ponta Grossa está o maior parque de oleaginosas da América
Latina. Há um adicional nesse trabalho, que alcança R$ 4, 753 bi, que trata de inversões
privadas diretamente ligadas à produção. Esses totais excluem programações de
investimentos em infraestrutura de energia elétrica, telecomunicações,
transportes e distribuição de petróleo que no conjunto superam R$ 4 bilhões. Ficaram
de fora também algumas intenções de investimento de longo prazo manifestadas
pela Renault, Klabin e Electrolux, totalizando quase R$ 1 bilhão. Somando tudo,
dão os R$ 9 bilhões que, segundo Lerner, iria gerar 480 mil empregos. O quadro a que nos referimos é do setor
industrial porque a expressão da agricultura e do extrativismo (setor primário)
é de pouco significado no conjunto metropolitano e zerada em Curitiba. Junte-se
a isso o potencial do setor terciário (comércio, transportes, serviços), mais
agregador ainda, de capital e trabalho e teremos idéia ainda mais forte do
desequilíbrio.
O Paraná só será
uma unidade integrada e forte se houver não apenas distribuição mais
equilibrada desses investimentos como uma ação mais coordenada pela difusão do
bem-estar.
Reproduzir o
modelo paulista não provará racionalidade e inteligência de nossa parte e muito
menos confirmará a expectativa de todo o país na proclamada criatividade do
nosso governador. Ganhamos, no entanto, num aspecto: tiramos de nossa economia
a condição de complementaridade da paulista. O que é uma revolução, queima de
etapas.
Recentemente saiu
uma publicação sobre o PIB (Produto Interno Bruto) estadual e que reafirma a
concentração da economia na Grande Curitiba: 22% do total estão justamente ali.
Antes houve aquela outra revelação, num estudo sobre potencial de consumo: a
capital paranaense detinha 24% de tudo, o que mostrava no sul do país a
situação mais perversa, já que em Santa Catarina, Joinville saia à frente com 9%
seguido de Florianópolis com 8%, o que indica uma irradiação mais distributiva.
Também a distância entre Curitiba e Londrina era maior do que a estabelecida
entre Porto Alegre e Caxias do Sul: a ex-capital do café aparecia com 5%.
A partilha do
ICMS, em que a Grande Curitiba aparece com quase dois terços. Não é para
espantar, já que os fatores locacionais, que pesaram na escolha das montadoras,
são visíveis no agregado da Cidade Industrial acoplada ao distrito fabril de
Araucária, onde opera ainda o polo petroquímico. Araucária e São José dos
Pinhais ficam com uma parte ponderável das rendas públicas.
Vamos, novamente,
ao estudo do IPARDES sobre o ‘‘Perfil dos Investimentos Industriais no
Paraná’’. Há três gêneros em que o interior sobrepuja a Região Metropolitana: a
agroindústria (80,48% contra 19,52%), madeira mobiliário (90,48%) e bebidas
(75,68%). Há um equilibrado, levemente beneficiando o interior: produtos de
matérias plásticas (51,72% dos investimentos). Há os de 100% na RMC como
minerais não metálicos, material de transportes, perfumaria e gráfica. Vejamos
os demais: material elétrico e de comunicações (96,75% na RMC), mecânica
(95,38%), metalurgia (88,89%), química (86,25%).
Cidade de Curitiba: Indicadores Básicos
PIB per capita US$: 5.149
Índice
de Gini - concentração de renda: 0,567
População Ocupada com rendimento superior a 2 salários mínimos: 58,4%
Empregados
com Carteira de Trabalho assinada: 82,0%
Empregados com contribuição previdenciária oficial: 62,2%
Domicílios
próprios: 64,3%
Domicílios com geladeira: 75,9%
Domicílios
com rádio: 94,4%
Domicílios com televisão: 81,3%
Mortalidade
infantil (por 1.000 nascidos vivos): 20,3
Taxa de alfabetização funcional: 72,8%
Taxa
de escolaridade - primeiro grau: 76,7%
Bibliotecas públicas: 55
Espaços
culturais e museus: 73
Fonte:
IBGE, Banco Mundial, SICT, IPPUC, SMC. 2008.
Referências
CROCETTI,
Z. S. Evolução Sócio-Espacial do Paraná. Florianópolis: Dissertação, Mestrado
em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.
CROCETTI,
Z. S. Formação Sócio Espacial do Paraná. Florianópolis: Tese, Doutorado em
Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, 2011.
FIRKOWSKI,
O. L. C. F. Conflitos de gestão: dos problemas metropolitanos às soluções
municipais. A nova Lei de Zoneamento e Uso do Solo de Curitiba. In:
ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 9, 2001. Anais... Rio de Janeiro: Associação
Nacional de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2001, p. 234-240.
GARCIA,
F. E. S. Cidade espetáculo. Política, planejamento e city marketing.
Curitiba: Ed. Palavra, 1997.
LIMA,
C. de A. A ocupação de área de mananciais e os limites dos recursos hídricos na
RMC: do planejamento à gestão ambiental urbano-metropolitana. Curitiba;
Tese, Doutorado em Meio
Ambiente e Desenvolvimento, Universidade Federal do Paraná. ,
2000, 389 f.
MOURA,
R. e KLEINKE, M. L. U. Espacialidades de concentração na rede
urbana da região sul. Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba:
IPARDES, n. 95, p. 3-25, 1999.
MOURA,
R. e FIRKOWSKI, O. L. C. F. Metrópoles e regiões metropolitanas. O que
isso tem em comum? In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 9, 2001. Anais...
Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional, 2001, p. 105-114.
OLIVEIRA,
D. Curitiba
e o mito da cidade modelo. Curitiba: Ed. Da UFPR, 2000.