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segunda-feira, 5 de maio de 2014

José Dirceu foi feito refém

REFLEXÕES !!!



03/05/2014 - Copyleft




Antonio Lassance*

Condenado ao regime semiaberto, José Dirceu está preso em regime fechado, sem direito a trabalhar, não por algo que tenha feito, mas pelo que representa.

José Dirceu está preso por ter cometido dois crimes: o de ter sido Chefe da Casa Civil do Governo Lula e o de ter dito que seu partido tinha um projeto de poder.
Essa não é uma desculpa de quem defende Dirceu. Esses foram os argumentos lavrados na peça de acusação contra o ex-ministro, levada ao STF e que resultou em sua condenação. É isso o que está atribuído como “crimes” cometidos por Dirceu.
Ser integrante de um partido, ser membro de um governo, disputar um projeto de poder, nada disso jamais foi crime para ninguém. Mas foi para José Dirceu.
Muita gente não sabe, mas Dirceu nunca foi sequer acusado de ter recebido ou distribuído dinheiro do mensalão. Não foi acusado de desvio de um único centavo de dinheiro público, nem de lavagem de dinheiro. Ele não chefiou quadrilha, conforme o próprio STF concluiu.
Qualquer pessoa, como manda a lei, sob essas circunstâncias, estaria livre, mas não José Dirceu. Ele é um cabra marcado para ficar na prisão.
Condenado ao regime semiaberto, continua em regime fechado, sem direito a trabalhar. Não por ser um criminoso, não por ser perigoso, mas por ser um troféu, como disse o doutor em Direito pela UFMG, Luiz Moreira, membro do Conselho Nacional do Ministério Público (em entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite, da revista IstoÉ).

Ele não está preso por algo que tenha feito, e sim pelo que representa.

Não é preciso gostar ou concordar com o que pensa José Dirceu para reconhecer que ele é um homem digno submetido a uma condição indigna, injusta, arbitrária.
Toda e qualquer pessoa que tenha um pingo de senso de justiça e de espírito crítico deveria se indignar com a situação de quem tenha sido condenado sem provas.
No mínimo, mais pessoas deveriam considerar estranho que alguém sentenciado ao regime semiaberto seja mantido em regime fechado graças a boatos e suspeitas de adversários. Ditaduras prendem pessoas por boatos, por acusações falsas, por suspeitas de desafetos. Democracias jamais deveriam admitir tal coisa.
Não é preciso ser filiado a qualquer partido ou ser de esquerda para defender que qualquer pessoa, seja ela quem for, tenha respeitado o seu direito de ser tratado com um mínimo de dignidade e tenha sua sentença cumprida à risca.
É o que se chama de Estado democrático de direito. O art. 1º de nossa constituição não pode ser feito refém pelos caprichos do presidente do Supremo Tribunal Federal. José Dirceu não pode ser mantido refém de Joaquim Barbosa.
É preciso reagir, revertendo o efeito manada do bombardeio midiático que trata Dirceu como chefe de uma raça que precisa ser extirpada. A frase lastimável de Jorge Bornhausen é hoje a pauta clara da mídia cartelizada.
Deveríamos viver em um mundo em que não se deseja o mal a uma pessoa simplesmente por não se concordar com ela. Deveria ser assim, não fosse o ódio, o autoritarismo, o golpismo.
O grau de injustiça da condição a que José Dirceu está submetido é notório se compararmos ao que os tribunais brasileiros fizeram (na verdade, ao que não fizeram) recentemente, em outras situações.
Por exemplo, ao contrário de Dirceu, Pimenta da Veiga, ex-ministro das comunicações de FHC, recebeu dinheiro das empresas de Marcos Valério, o mesmo operador do mensalão do PSDB. Dirceu está preso. Pimenta da Veiga é candidato “ficha limpa” ao governo de Minas Gerais pelo PSDB.
Ao contrário de Dirceu, Eduardo Azeredo foi acusado de apropriação de dinheiro público (peculato) e lavagem de dinheiro. Dirceu está preso. Azeredo renunciou ao mandato de deputado pelo PSDB para não responder ao STF - e conseguiu. Boa parte dos crimes de que era acusado já prescreveu.
Ao contrário de Dirceu, José Roberto Arruda, ex-governador do DF pelo DEM, ex-líder do governo FHC no Senado,  foi flagrado em vídeo pegando e guardando dinheiro vivo, algo estimado em R$ 50 mil, jamais devolvidos aos cofres públicos. José Dirceu está preso. Arruda está livre e é candidato ainda "ficha limpa" às próximas eleições.
Ao contrário de Dirceu, o ex-presidente Collor de Mello foi pego com um carro comprado com dinheiro desviado, entre tantas outras coisas. Dirceu está preso. Collor foi "inocentado" pelo STF, recentemente, de todos os crimes de que era acusado, em grande medida, por prescrição dos prazos.
Ao contrário de Dirceu, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, está na lista de procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e tem uma ordem de prisão expedida. É procurado por fraude e por roubo: http://www.interpol.int/notice/search/wanted/2009-13608. José Dirceu está preso. Paulo Maluf é deputado federal e trabalha de frente para Joaquim Barbosa na Praça dos Três Poderes, no gabinete 512 do anexo IV da Câmara dos Deputados.
Dirceu está preso por uma razão muito simples: ele não é Pimenta da Veiga, não é Azeredo, não é Arruda, não é Collor, não é Maluf.
Ele é José Dirceu de Oliveira e Silva e está preso em regime fechado por ser um troféu.
Dirceu está e continuará preso, muito provavelmente, até as próximas eleições. Para muitos, é isso o que importa. Ele é uma peça para o marketing eleitoral oposicionista.
Condenado ao regime semiaberto, continua preso em regime fechado. Aí está um excelente pretexto para que o chamado mensalão continue a ser notícia todos os dias, pelo menos até 5 de outubro.
Uma trama diária, urdida por parlamentares da oposição em conluio com gente de dentro do sistema penitenciário da Papuda, inventa "notícias" de que esse preso está tendo algum tipo de privilégio.
Certamente, o privilégio de estar preso. O privilégio de receber manifestações de solidariedade. O privilégio de reivindicar estudar e trabalhar.
É preciso decência e coragem para defender José Dirceu. Quem o faz é imediatamente acusado de ser conivente inclusive com crimes dos quais nem Dirceu foi acusado na Ação Penal 470.
É mais fácil xingá-lo de todos os nomes. É mais fácil cuspir em seu passado. É mais fácil desmoralizar o que ele representa. É mais fácil divertir-se com ele atrás das grades. Mais fácil, mais cômodo e mais desonesto.
É fácil perceber que o ranger de dentes contra a pessoa de José Dirceu, na verdade, é o mesmo feito contra Lula e Dilma. Dirceu sofre o castigo pelo incômodo contra aqueles que comandam a coalizão que governa o país há quase 12 anos.
Para esses, Lula e Dilma também deveriam estar presos, pois essa é a forma mais prática, talvez a única, de impedi-los de disputar e ganhar eleições.

"Se já não podes vencê-los, prenda-os".

O crime comum, do qual Dirceu, Lula e Dilma foram mentores intelectuais, foi o crime de terem tirado milhões de brasileiros da miséria; de terem reduzido a desigualdade mais rapidamente do que se fez em qualquer outro país; de terem alcançado o desemprego mais baixo da história; de terem garantido a autonomia dos órgãos de investigação e controle no combate à corrupção; de terem criado mais universidades, em 11 anos, do que se fez ao longo de todo o período republicano anterior. São réus confessos de todos esses e muitos outros crimes.
Enquanto a AP 470 continuar sendo uma exceção, confirmada pelo destino dado a políticos que são réus em outros processos, estamos diante não só de um julgamento de exceção, mas de um golpe.
A condução da execução penal de José Dirceu é um arbítrio da pior espécie, comemorado, como não poderia deixar de ser, pelos que têm uma tradição de comemorar golpes maiores e menores contra a democracia.
O mensalão foi um golpe do mesmo tipo que aquele de editar um debate, à vésperas de uma eleição, em favor de um dos candidatos.
Foi um golpe similar àquele de vestir camisas do PT nos estrangeiros que sequestraram o empresário Abílio Diniz, para que a imagem dos sequestradores, fotografada e televisionada, fosse associada à sigla.
A oposição de direita pratica golpes como quem toma seu café da manhã - como se fosse a coisa mais natural do mundo, como golpistas contumazes que são. Cercados de corruptos, posam de éticos. Atolados na lama, falam em limpar o país. Golpistas profissionais são assim.
Se não se pode banir um partido político, em plena democracia, a ideia é tentar reduzi-lo a pó para ser cheirado por uma oposição em busca de euforia.
Uma direita sem projeto, sem nenhuma vocação de militância e de luta social, sem a cara e sem a fala do povo brasileiro mais humilde sente um prazer monstruoso por condenar quem os tem.
Tais atributos, hoje e sempre, sentenciaram o destino dos que cometem os crimes de tentar mudar o país e de fazer o povo entrar nos palácios pela porta da frente.
É por isso que José Dirceu está e continuará preso, ainda um bom tempo, sem o direito de trabalhar.
É por isso que devemos nos indignar e exigir que, ao menos, a sentença dada pelo STF seja fielmente cumprida.

(*) Antonio Lassance é cientista político.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Tributo á GABRIEL GARCIA MARQUEZ

GABRIEL GARCIA MARQUEZ

G. G. MARQUEZ sofria de um câncer linfático e estando prestes a morrer. Enviou aos seus Amigos uma carta que, graças à Internet pode ser difundida. Recomendo a sua leitura.
 
“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem. Ouviria quando os outros falam e como disfrutaria um bom gelado de chocolate!
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, mas também  a minha alma.
 Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que eu ofereceria à Lua!
Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas...
 Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha. Aos velhos ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas foram as coisas que aprendi com vocês, os homens! Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está em subir a encosta...
Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida ... não deixaria passar um só instante sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas. Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor.
 Aprendi que, quando um recém-nascido aperta, com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se...
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me irão servir realmente de muito, porque, quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer...”
 Ajuda a passar esta belíssima lição de vida, pelos teus amigos, pelos menos amigos, por todos aqueles que amam, de verdade
a

V I D A

 
 
 

 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Imperialismo dos EUA a todo Vapor



A via ucraniana e colombiana para a construção do Império

James Petras

Violência e terro:
As duas vias para a construção imperialista do século XXI através da terceirização são ilustradas pela violenta tomada de poder na Ucrânia por uma junta, apadrinhada pelos EUA, e pelos ganhos eleitorais de Alvaro Uribe, o senhor da guerra colombiana, protegido pelos EUA. Vamos descrever a 'mecânica' da intervenção dos EUA na política interna destes dois países e os seus profundos efeitos externos – é assim que eles reforçam o poder imperialista numa escala continental. 



Intervenção política e regimes alinhados: Ucrânia

 
A transformação da Ucrânia num estado vassalo EUA-UE tem sido um longo processo que envolveu, em grande escala e a longo prazo, o financiamento, a doutrinação e o recrutamento de quadros, a organização e formação de políticos e de arruaceiros e, sobretudo, a capacidade de aliar a ação direta com a política eleitoral.

Conquistar o poder é um jogo de apostas altas para o império: (1) a Ucrânia, na mão de clientes, fornece à NATO um trampolim militar no coração da Federação Russa; (2) os recursos industriais e agrícolas da Ucrânia fornecem uma fonte de enorme riqueza para os investidores ocidentais e (3) a Ucrânia é uma região estratégica para a penetração no Cáucaso e para além dele.

Washington investiu mais de 5 mil milhões de dólares para arranjar clientes, na sua maior parte na 'Ucrânia ocidental', em especial em Kiev e arredores, concentrando-se em 'grupos da sociedade civil' e em partidos políticos maleáveis e seus líderes. Em 2004, o 'investimento' político inicial dos EUA na mudança de regime culminou na chamada 'Revolução laranja' que instalou um regime de curta duração pró-EUA-UE. Este, porém, rapidamente degenerou no meio de grandes escândalos de corrupção, gestão danosa e pilhagem oligárquica do erário nacional e dos recursos públicos que levaram à condenação do antigo vice-presidente e à queda do regime. Novas eleições resultaram num novo regime, que tentou manter ligações com os EUA e com a Rússia através de acordos econômicos, embora continuasse com muitas das características odiosas (grande corrupção endêmica) do regime anterior. Os EUA e a UE, depois de terem perdido em eleições democráticas, relançaram as suas 'organizações de ação direta' com um novo programa radical. Os neofascistas tomaram o poder e instituíram uma junta ditatorial através de manifestações violentas, vandalismo, assaltos armados e ação da população. A composição da nova junta pós-golpe refletiu dois aspectos das organizações políticas apadrinhadas pelos EUA;

(1) políticos neoliberais para gerir a política económica e para forjar laços mais estreitos com a NATO,
 (2) e nacionalistas neofascistas/violentos para impor a ordem pela força e com mão-de-ferro, e esmagar os 'autonomistas' pró-russos da Crimeia, os russos étnicos e outras minorias, em especial no sul e no leste industrializados.

Seja o que for que vier a acontecer, o golpe e a resultante junta estão totalmente subordinados e dependentes da vontade de Washington: não obstante a reivindicação da 'independência' ucraniana. A junta procedeu à purga dos funcionários governamentais eleitos e nomeados, filiados em partidos políticos do anterior regime democrático e à perseguição dos seus apoiantes. O seu objetivo é garantir que as subsequentes eleições manipuladas proporcionem uma suposta legitimidade, e as eleições sejam limitadas a dois conjuntos de clientes imperiais: os neoliberais (auto-intitulados 'moderados') e os neofascistas, rotulados de 'nacionalistas'.

A via da Ucrânia para o poder imperialista através de um regime colaboracionista ilustra os diversos instrumentos da construção do império: (1) o uso de fundos estatais imperialistas, canalizados através das ONG, para grupos políticos de fachada e a montagem duma 'base de massas' na sociedade civil; (2) o financiamento da ação direta de massas que leva a um golpe ('mudança de regime'); (3) a imposição de políticas neoliberais pelo regime cliente; (4) o financiamento imperialista da reorganização e reagrupamento de grupos de ação direta de massas depois da queda do primeiro regime cliente; (5) a transição dos protestos para uma ação direta violenta como o principal pano de fundo para os setores extremistas (neofascistas) organizarem a tomada do poder e a purga da oposição; (6) a organização de uma 'campanha internacional nos meios de comunicação' para apoiar a nova junta enquanto demoniza a oposição interna e internacional (Rússia); e (7) um poder político centralizado nas mãos da junta, convocando 'eleições manipuladas' limitadas à vitória de um dos dois candidatos pró-junta e pró-imperialistas.

Em resumo, os construtores do império funcionam em vários níveis: violento e eleitoral; social e político; e com operadores selecionados e rivais empenhados num único objetivo estratégico: a tomada do poder estatal e a transformação da elite dominante em vassalos obedientes do império.

 
Democracia dos Esquadrões de Morte da Colômbia: Peça central do avanço imperialista na América Latina 



 

Perante o declínio da influência dos EUA em todo a América Latina, a Colômbia destaca-se como um bastião permanente dos interesses imperialistas dos EUA: (1) a Colômbia assinou um acordo de comércio livre com os EUA; (2) ofereceu sete bases militares e convidou milhares de operacionais americanos da contra-insurreição; e (3) colaborou na criação em grande escala de esquadrões de morte paramilitares preparados para ataques trans-fronteiriços contra a Venezuela, arqui-inimiga de Washington.

A oligarquia dirigente da Colômbia e as suas forças armadas conseguiram resistir à vaga de levantamentos maciços democráticos, nacionais e populares e de vitórias eleitorais que deram origem aos estados pós-neoliberais no Brasil, na Argentina, na Venezuela, no Equador, na Bolívia, no Paraguai e no Uruguai.

Enquanto a América latina avançou para 'organizações regionais' excluindo os EUA, a Colômbia reforçou os laços com os EUA através de acordos bilaterais. Enquanto a América latina reduziu a sua dependência nos mercados dos EUA, a Colômbia alargou os seus elos comerciais. Enquanto a América latina reduziu os seus laços militares com o Pentágono, a Colômbia reforçou-os. Enquanto a América latina avançou para uma maior inclusão social aumentando os impostos sobre as multinacionais estrangeiras, a Colômbia baixou os impostos a essas empresas. Enquanto a América latina expandiu a colonização de terras para as suas populações rurais sem terra, a Colômbia deslocou mais de 4 milhões de camponeses, no âmbito da política contra-insurreição de 'terra queimada', traçada pelos EUA.

A 'excepcional' submissão inabalável da Colômbia aos interesses imperialistas dos EUA tem raízes em vários programas de grande escala e a longo prazo traçados em Washington. Em 2000, o presidente Bill Clinton comprometeu os EUA num programa contra-insurreição de 6 mil milhões de dólares (Plano Colômbia) que aumentou enormemente a brutal capacidade repressiva da elite colombiana para confrontar os movimentos populares de base de camponeses e trabalhadores. Juntamente com armamento e treino, as Forças Especiais e as ideologias americanas entraram na Colômbia para desenvolver operações terroristas militares e paramilitares – destinadas principalmente para penetrar e dizimar a oposição política e os movimentos sociais da sociedade civil e assassinar ativistas e líderes. Alvaro Uribe, apadrinhado pelos EUA, um conhecido narcotraficante e a própria personificação de um vassalo imperialista desumano, tornou-se o presidente duma 'Democracia de Esquadrões de Morte'.

O presidente Uribe militarizou ainda mais a sociedade colombiana, trucidou os movimentos da sociedade civil e esmagou qualquer possibilidade de um renascimento democrático popular, como os que estavam a ocorrer em todo o resto da América latina. Foram assassinados, torturados e encarcerados milhares de ativistas, sindicalistas, defensores dos direitos humanos e camponeses.

O 'Sistema Colombiano' aliou o uso sistemático de paramilitares (esquadrões da morte) para esmagar os sindicatos locais e regionais e a oposição camponesa com a 'tecnificação' e a massificação das forças armadas (mais de 300 mil soldados) na luta contra a insurreição popular e para 'limpar o terreno' de simpatizantes rebeldes. Muitos milhares de milhões de dólares do tráfico da drogas e da lavagem de dinheiro formaram a 'cola financeira' para cimentar uma forte relação entre oligarcas, políticos, banqueiros e conselheiros americanos da contra-insurreição – criando um terrível estado policial com alta tecnologia nas fronteiras da Venezuela, do Equador e do Brasil – países com substanciais movimentos de massas populares.

A mesma máquina de estado terrorista, que dizimou os movimentos sociais pró-democracia, protegeu, promoveu e participou em 'eleições encenadas', a marca da Colômbia enquanto 'democracia de esquadrões de morte'.

As eleições realizam-se ao abrigo de uma vasta rede sobreposta de bases militares, em que os esquadrões da morte e os traficantes de droga ocuparam cidades e aldeias intimidando, aterrorizando e 'corrompendo' o eleitorado. O único protesto 'seguro' nesta atmosfera repressiva tem sido a abstenção. Os resultados eleitorais são pré-estabelecidos: os oligarcas nunca perdem nas democracias de esquadrões de morte, são eles os vassalos de maior confiança do império.

Os efeitos cumulativos da purga sangrenta, que durou década e meia, da sociedade civil colombiana pelo presidente Uribe e pelo seu sucessor, Santos, foram eliminar qualquer oposição eleitoral consequente. Washington conseguiu o seu ideal: um estado vassalo estável; umas forças armadas de grande escala e obedientes; uma oligarquia ligada às elites empresariais dos EUA; e um sistema 'eleitoral' controlado apertadamente que nunca permite a eleição de um opositor genuíno.

As eleições colombianas de Março de 2014 ilustram brilhantemente o êxito da intervenção estratégica dos EUA em colaboração com a oligarquia: a grande maioria do eleitorado, mais de dois terços, absteve-se, demonstrando a ausência de qualquer real legitimidade entre os votantes elegíveis. Entre os que 'votaram', dez por cento apresentaram boletins nulos ou em branco. A abstenção dos votantes e os votos inutilizados foram especialmente elevados nas áreas da classe trabalhadora que tinham sido sujeitas ao terrorismo do estado.

Dada a intensa repressão do estado, a massa dos votantes decidiu que nenhum partido autêntico pró-democracia teria qualquer hipótese e por isso recusaram-se a legitimar o processo. Os 30% que votaram foram principalmente colombianos da classe urbana média e alta e os residentes nalgumas áreas rurais totalmente controladas por narcotraficantes e militares onde a 'votação' pode ter sido 'compulsiva'. De um total de 32 milhões de votantes elegíveis na Colômbia, 18 milhões abstiveram-se e mais 2,3 milhões apresentaram boletins inutilizados. As duas coligações oligárquicas dominantes chefiadas pelo presidente Santos e pelo ex-presidente Uribe obtiveram apenas 2,2 milhões e 2,05 milhões de votos, respectivamente, uma fração do número dos que se abstiveram. Nesta farsa eleitoral, amplamente criticada, os partidos centro-esquerda e esquerda deram um espetáculo miserável. O sistema eleitoral da Colômbia põe um revestimento de propaganda num estado vassalo perigoso, altamente militarizado e preparado para desempenhar um papel estratégico nos planos dos EU para 'reconquistar' a América latina.

Duas décadas de terror sistemático, financiado por um programa de militarização de seis mil milhões de dólares, garantiram que Washington não encontrará qualquer oposição substancial na assembleia legislativa ou no palácio presidencial em Bogotá. Isto é o 'aroma acre do êxito, com laivos de pólvora' para os políticos dos EUA: a violência é a parteira do estado vassalo. A Colômbia foi transformada num trampolim para o desenvolvimento de um bloco comercial centrado nos EUA e uma aliança militar para sabotar as alianças regionais bolivarianas da Venezuela, como a ALBA e a Petro Caribe, assim como a segurança nacional da Venezuela. Bogotá vai tentar influenciar os regimes vizinhos de direita e centro-esquerda, pressionando-os para aderirem ao império dos EUA contra a Venezuela.

Conclusão

A organização da subversão em grande escala e a longo prazo na Ucrânia e na Colômbia, assim como o financiamento de organizações paramilitares e da sociedade civil (ONG), têm possibilitado a Washington:

(1) construir alianças estratégicas;
(2) montar ligações a oligarcas, políticos maleáveis e assassinos paramilitares e
(3) aplicar o terrorismo político para a sua tomada de poder estatal. Os planejadores imperialistas criaram assim 'estados modelo' – desprovidos de opositores consequentes e 'abertos' a eleições de farsa entre políticos vassalos rivais.

Golpes e juntas, orquestrados por políticos mandatados de longa data, e estados fortemente militarizados dirigidos por 'Executivos de Esquadrões da Morte' são legitimados por sistemas eleitorais destinados a expandir e reforçar o poder imperialista.

Ao tornar impossíveis os processos democráticos e as reformas populares pacíficas e ao derrubar governos independentes, democraticamente eleitos, Washington está a tornar inevitáveis guerras e levantamentos violentos.
O original encontra-se em www.globalresearch.ca/... . Tradução de Margarida Ferreira.